Para se ter
uma ideia da importância da palavra tóxico
para mim, o título deste blog foi criado em 2008, enquanto ainda cursava o
mestrado e dava muitas, mas MUITAS aulas. E o mais interessante é que retomo as
atividades do blog e escrevo este texto em 2020, durante o isolamento social da
maior pandemia que o planeta já viu, a da COVID-19, em que as pessoas podem
efetivamente ser “tóxicas” ao transmitir o vírus de pessoa para pessoa. Além
disso, escrevo numa época em que as pessoas já eram classificadas como tóxicas
antes mesmo da pandemia, independentemente de portar um vírus transmissível.
Uma rápida busca na internet nos dias atuais e você pode saber se é ou não uma
pessoa tóxica, e se vive em um relacionamento tóxico ou não. Talvez este texto
poderá ser classificado como tóxico (mas
existe uma boa razão para isso). Entretanto, não sou psicólogo e nem quero
entrar na discussão da toxicidade presente na sociedade, pelo menos não agora.
Meu objetivo é outro, é pensar o porquê do nome BioTóxico. Mas para isso, precisamos definir o que é “tóxico”.
Uma substância
considerada tóxica é aquela que pode causar sérios danos à saúde humana (não só) se ingerida, inalada ou entrar
em contato com a pele, mesmo em pequenas quantidades, e inclusive levar à
morte. Isso pode ser visto em acidentes com animais peçonhentos (acidente mesmo, pois uma picada de serpente,
aranha ou escorpião dificilmente estará no script de vida de uma pessoa), na
ingestão de alguma planta ou substância sintética (estricnina, por exemplo), e
até no manuseio de alguns animais, como algumas espécies de cobra-cega (que não são cobras e sim anfíbios, tal como
o sapo), cujo muco produzido por glândulas em sua pele possui substâncias
capazes de atravessar a barreira das células epiteliais, e provocar algum grau
de envenenamento. Como é possível, então, o título deste blog sugerir intoxicar-se
com a vida se intoxicar é um verbo relacionado com a introdução de algo tóxico
no corpo, podendo provocar a morte? (é a
hora que você pergunta: - Tá louco, Gabizão?).
Bom,
neste caso, depende de qual vida estamos falando e aqui vai um pouco de biologuês. Vida não é algo fácil de ser
definido nem mesmo para a biologia, que é a ciência que a estuda. Mas
consideremos a vida uma condição, um atributo que diferencia o orgânico do
inorgânico, os objetos animados dos inanimados. A vida biológica se manifesta
de diferentes formas, e todas possuem a célula como sua unidade básica. Pense
numa bactéria, por exemplo. A bactéria é considerada um dos seres vivos mais
simples e primitivos, constituída de uma única célula (ou seja, é unicelular),
e o seu DNA fica solto em seu citoplasma (e por isso é classificada como
procarionte). Já um protozoário, como a ameba, por exemplo, também é um ser vivo
unicelular, mas diferentemente das bactérias, o seu DNA fica contido numa
estrutura envolta por membrana, conhecida como núcleo, e além disso, possui
vários outros compartimentos internos também delimitados por membrana, chamados
de organelas citoplasmáticas membranosas, como as mitocôndrias e o retículo
endoplasmático, por exemplo (estas duas características classificam o tipo de
célula da ameba como eucarionte). Mas mesmo entre dois seres vivos
unicelulares, a maneira como eles mantêm sua condição “viva” é diferente entre
eles.
Agora compare
qualquer um destes seres unicelulares com um ser pluricelular, constituído por
trilhões de células formando seu corpo, seja uma planta ou até mesmo um animal,
como uma aranha, da qual já falamos anteriormente. Existem muitas semelhanças
entre a vida de uma bactéria, de uma ameba e de uma aranha, como a necessidade
de inúmeras reações químicas (um metabolismo pujante) para garantir a energia
necessária para manterem-se vivas, seja buscando mais alimento ou fugindo de
predadores, ou a capacidade de transmitir suas informações genéticas para
gerações seguintes, entre outras situações. Mas também existem muitas e muitas
diferenças nesta comparação, a começar pelo já citado número de células que
formam seu corpo. Entretanto, ambos os seres possuem VIDA tal qual um ser
humano, como você e eu.
Agora que você já pensou em vida no âmbito biológico, falaremos sobre a sua vida e a minha (não, não vamos fazer competição de quem sofre mais ou medir o quão fantásticos nós somos, muito menos fazer fofoca da vida alheia, eu espero). Falaremos sobre a vida biológica humana e suas vertentes no próximo texto. Mas só para deixar uma pulga atrás da orelha (gírias idosas, nós temos aqui): um espermatozoide, um óvulo, uma única célula do seu coração, ou mesmo um neurônio, são exemplos de células vivas, ou seja, POSSUEM VIDA. É devido ao fato destas células serem vivas que o coração bate (tum tum tum, bateu), que o cérebro consegue decifrar a mensagem colocada aqui por meio destas letras, e que o espermatozoide nada em direção ao óvulo, e juntos conseguem fecundar e se desenvolver numa nova estrutura, também viva, o zigoto, e originar um novo ser (para aqueles que se reproduzem dessa forma). Essa vida é igual à nossa? Aliás, essa vida é comparável à nossa? Existem diferentes "níveis" de vida? Com essas perguntas percebemos como "Vida" pode ser algo tão comum e tão complexo.