É impressionante
pensar como “coisas tóxicas” sempre estiveram presentes em minha vida. Entretanto,
o termo “tóxico” se tornou um sinônimo pra tudo que pode haver de pior na
sociedade atual. Meu desafio será apresentar alguma reflexão sobre este assunto
a partir daqui, numa sequência de postagens para justificar o título deste blog
(e não que isso seja necessário).
Minha primeira
lembrança de vida relacionada a algo tóxico é minha mãe (NÃO, ela não foi e não
é uma pessoa tóxica), pois ela trabalhou no Centro de Assistência Toxicológica
do hospital da cidade durante minha tenra infância no interior de São Paulo. Eu
a acompanhava em suas aulas de farmacologia quando ela cursava a faculdade de
farmácia e bioquímica (e sinceramente não sei o motivo dela me levar às aulas,
mas eu ia todo pimpão), e achava muito legal os professores e estudantes vestidos
de branco, o ambiente e o cheiro dos diferentes laboratórios, bem como a
possibilidade de tocar nos animais empalhados da universidade. São muito vivas em minha memória as inúmeras vezes que ela chegava do hospital com frascos
de vidro contendo um líquido incolor (às vezes já amarelados) contendo algum
animal interessante lá dentro (aranhas, escorpiões e serpentes), que acabara de
fazer uma vítima.
De meu pai também
tive contato com tóxicos (leia-se “tóchicos”), pois ele era policial, e por
muitas vezes deu palestra nas escolas da cidade sobre os perigos das drogas
lícitas e ilícitas. Ele também levava frascos de vidro contendo porções das
drogas mais conhecidas na época (crack, cocaína, maconha, haxixe, ecstasy, entre
outras). Obviamente que em casa, meus irmãos e eu tínhamos acesso privilegiado
a explicações mais detalhadas sobre cada uma das drogas, e ainda à forma como eram
encontradas na sociedade e os estragos que fizeram na vida das pessoas
envolvidas. Além disso, ele era envolvido com uma associação de apoio a pessoas
dependentes químicas, e não raramente estávamos na chácara, contando ou ouvindo
histórias relacionadas com estas substâncias tóxicas. Credito a ele o fato de
ninguém ter problemas com “tóchicos” em nossa casa (somente alguns poucos casos
de abuso de AAS infantil).
Outra
lembrança “tóxica” que tenho, de um pouco mais tarde, foi a participação em diversos
cursos sobre animais peçonhentos enquanto estava na faculdade de ciências
biológicas. Lembro, com agradável nostalgia, três cursos que fiz na capital
paulista. No primeiro deles, sobre anatomia de serpentes, eu precisava de alguém
pra fazer dupla durante a aula, e convenci meu pai, um delegado de polícia da
ativa àquela altura, a participar do evento comigo. O argumento persuasivo foi
de que ele não colocaria as mãos em nada, mas teria a nobre função de fazer os registros
fotográficos enquanto eu abria uma ou outra cascavel. Os outros dois cursos
foram diretamente no Instituto Butantan, meu paraíso enquanto jovem cientista,
sobre aracnídeos e anfíbios, os quais fiz com um grande amigo que a vida me deu
(abraço, RafaSt). Tenho plena consciência que minha mãe influenciou (e muito) a
minha escolha profissional, pois dentro da biologia, tudo o que leva a palavra
TÓXICO me atrai até hoje, não só aranhas, sapos, serpentes, escorpiões e lacraias,
mas a minha própria tese de doutoramento teve pitadas de ecotoxicidade, onde
estudei o efeito tóxico de determinado poluente no ambiente aquático, mais
precisamente em peixes de riachos.
Com essa “pequena”
introdução iniciei a explicação do nome BioTóxico, escolhido em 2008, mas ainda
há muito a se falar sobre o assunto, e trarei em partes.
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